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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Que a luta continue-Fonte Revista Veja


No Brasil, Camila Vallejo refuta título de 'musa dos protestos'

Líder do movimento estudantil no Chile falou a VEJA durante evento em Brasília

Gabriel Castro, de Brasília
Camila Vallejo, líder estudantil chilena, durante manifestação em Brasília
Camila Vallejo, líder estudantil chilena, durante manifestação em Brasília (Elio Rizzo/Futura Press)
Aos 23 anos, Camila Vallejo se tornou o rosto mais conhecido dos protestos estudantis que movimentam o Chile há mais de três meses. Em parte, pela função que ocupa: a de presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (Fech). Em parte, pelo belo par de olhos verdes. Apesar de essa segunda parte, ela preferir ignorar. A chilena, que vem de uma família com "sensibilidade à esquerda" - como ela mesma define, só fala de política. Diz que o posto de "musa" dos protestos foi um rótulo criado pelos meios de comunicação que não entenderam o movimento. No Brasil para participar de um protesto da União Nacional dos Estudantes (UNE) nesta quinta-feira, ela conversou com o site de VEJA.

Entenda o caso


  1. • Em maio, estudantes chilenos tomaram as ruas do país para protestar contra a má qualidade do ensino - e as manifestações seguem ocorrendo quase que diariamente.
  2. • Entre as reivindicações, das quais recebem apoio da maioria da população, exigem principalmente educação gratuita.
  3. • Em resposta, o presidente, Sebastián Piñera, lançou um plano de reforma para o setor, que amplia bolsas de estudos e créditos a taxas baixas a alunos pobres, mas a proposta não foi bem recebida.
  4. • No dia 26 de agosto, os confrontos entre polícia e manifestantes causaram a primeira morte: um adolescente de 16 anos, que foi baleado durante a greve geral (quando centrais sindicais se uniram aos jovens).

Apesar do visual moderno, reforçado pelo piercing no nariz, Camila defende um discurso antigo. Em um país que se descolou do atraso da América do Sul graças a um ambiente de liberdade econômica, o que ela e seus pares querem é mais intervenção estatal, que possibilite ensino superior de qualidade - e gratuito. "A crise da educação no Chile vem desde a década de 80, quando se consagrou que a família tem que ensinar o seu filho, e não o estado. O estado apoia, mas a família é quem financia a educação", explica.
Assim como todos os jovens do movimento, ela admite que a má qualidade da educação chilena não é (totalmente) culpa de Sebastián Piñera. E explica que, embora o modelo liberal de educação superior do país tenha sido implementado há mais de três décadas, ainda na ditadura do general Augusto Pinochet, a revolta culminou agora devido ao acúmulo de gerações frustradas. "Não somos contra esse governo em particular. Somos contra o modelo neoliberal de estado", salienta, acrescentando que os protestos atuais são reflexos de uma mobilização que surgiu ainda durante o governo da socialista Michelle Bachelet, em 2006, que ficou conhecida como Revolução dos Pinguins (em referência ao uniforme com gravata usado pelos secundaristas).
Camila diz que os protestos só explodiram agora em função da maturidade de uma geração que já nasceu sob a vigência desse modelo de ensino: "Há uma população de descontentes de anos anteriores, porque durante 30 anos tivemos um modelo absolutamente perverso, que deixou as famílias endividadas, frustradas por não poderem ver seus filhos na universidade", destaca. Camila também enxerga semelhanças entre as reivindicações de estudantes chilenos e brasileiros - "nascidos em países muito ricos em recursos naturais, o que não condiz com baixos níveis de habitação, saúde e educação", avalia. "Para o movimento social chileno, é muito importante o apoio dos estudantes do Brasil."
Sérgio Lima/Folhapress
Marcha dos estudantes em Brasília
Marcha dos estudantes em Brasília

Manifestação - Camila participou de todo o evento na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, que de acordo com a UNE reuniu mais de 20.000 pessoas - mas na realidade não deve ter passado de um quinto disso. Os estudantes elaboraram uma lista com 43 reivindicações, mas nenhuma delas diz respeito ao fim da corrupção ou à transparência do governo. Entre as principais bandeiras da manifestação está a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e 50% dos recursos do pré-sal para a educação. A lista inclui também a criação da Comissão da Verdade, o fim do superávit primário, a redução da jornada de trabalho e a aprovação de um projeto que impede dirigentes estudantis de serem jubilados ou expulsos de suas instituições de ensino. Sobre os desvios éticos de um governo que já demitiu três ministros, silêncio total.
O presidente da UNE, Daniel Iliescu, diz que a entidade defende uma mudança no modelo político, em vez de pedir investigações: "Mais do que a UNE ficar defendendo a CPI, o importante é que o Brasil avance em soluções estruturantes, para cobrar dos políticos mais honestidade", afirma. Nesta tarde, Camila e os demais líderes estudantis brasileiros participam de uma audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em solidariedade ao movimento do Chile. Depois, os estudantes esperam ser recebidos pela presidente Dilma Rousseff

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